
A construção de uma educação antirracista não pode se limitar ao mês de novembro. Para garantir aprendizagens significativas, respeito às identidades e enfrentamento às desigualdades, é fundamental que as escolas desenvolvam ações continuadas, críticas e comprometidas com a implementação da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar. Trabalhar o tema Consciência Negra na escola envolve reconhecer que o racismo é estruturante, que a história oficial silenciou protagonismos negros e que cabe ao ambiente escolar promover práticas que valorizem a diversidade, reforcem a autoestima e garantam o direito à memória.
A incorporação da temática no currículo exige a revisão de práticas pedagógicas, conteúdos e materiais didáticos, incluindo temas como ancestralidade, cultura afro-brasileira, povos quilombolas, diáspora africana, religiões de matriz africana e as contribuições do povo negro em todas as áreas do conhecimento. Para isso, as escolas podem desenvolver ações que aproximem estudantes da reflexão crítica sobre identidade, história e diversidade. Uma das práticas mais eficazes é a realização de rodas de conversa sobre empatia, respeito e diversidade, que criam um ambiente de escuta ativa e diálogo entre estudantes, permitindo que falem sobre vivências, percepções e formas de enfrentamento do preconceito.
Outra ação importante é o estudo de personalidades negras de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil e do mundo, mostrando trajetórias de resistência, luta e conquistas que ampliam o repertório e fortalecem a construção da autoestima dos estudantes. A escola também pode promover exposições e vivências de arte e cultura afro-brasileira, além de visitas a museus e espaços culturais que valorizem a produção artística e histórica de matriz africana. Essas experiências ajudam a desenvolver o senso estético, crítico e humanizado.
As oficinas de dança e música afro-brasileiras oferecem oportunidades de contato direto com ritmos, movimentos e expressões corporais que fazem parte do patrimônio cultural do povo negro. São vivências que estimulam pertencimento e mostram que a cultura afro-brasileira está presente no cotidiano. A leitura e análise de obras literárias de autores negros também ampliam horizontes, permitindo que estudantes reflitam sobre temas como ancestralidade, desigualdade, resistência, afetividade e crítica social.
A realização de debates estruturados sobre preconceito e racismo ajuda a escola a enfrentar, de forma responsável, os desafios que atravessam o ambiente escolar e a sociedade. Outro recurso potente é o Mapa da Consciência Negra, uma atividade em que estudantes percorrem marcos da luta negra no Brasil e no mundo, compreendendo processos históricos essenciais para a formação cidadã. Além disso, a exibição de filmes e documentários, seguida de discussões mediadas, possibilita análises profundas sobre identidade, desigualdade, protagonismo negro e violências históricas e contemporâneas.
Dinâmicas e jogos que abordem diversidade cultural também podem integrar o planejamento, oferecendo uma forma lúdica de trabalhar a pluralidade e estimular a convivência respeitosa. Para aproximar ainda mais as vivências da realidade, entrevistas com profissionais negros de diferentes áreas permitem que estudantes conheçam trajetórias inspiradoras e ampliem percepções sobre representatividade e acesso a oportunidades.
Essas práticas, somadas a projetos contínuos e ao envolvimento das famílias e da comunidade, fortalecem o compromisso da escola com uma educação que combate desigualdades e valoriza a diversidade. A parceria com movimentos negros, universidades e instituições culturais amplia repertórios e sustenta o desenvolvimento de projetos transformadores.
Ensinar a partir de perspectivas decoloniais significa romper com narrativas hegemônicas e eurocentradas, valorizando saberes historicamente marginalizados e reconhecendo que há muitas formas de produzir conhecimento. Quando assume o compromisso com a educação antirracista, a escola fortalece a democracia, promove a equidade e contribui para a formação de uma sociedade mais justa, plural e consciente de suas próprias histórias.
Assessoria de Imprensa/ Marithê do Céu
















