A epidemia de violência contra profissionais da educação e o compromisso da ACP com a valorização e proteção docente

Uma pesquisa divulgada pelo Observatório do Estado Social Brasileiro acende um alerta sobre a grave e crescente epidemia de violência contra professoras e professores da educação básica. O estudo, intitulado “Razões da epidemia de violência contra professoras e professores do Ensino Básico Brasileiro”, mostra que as agressões sofridas por educadores têm se tornado um fenômeno nacional, com reflexos profundos na saúde, na permanência e na motivação profissional da categoria.
Segundo a pesquisa, a violência verbal é a mais recorrente, marcada por insultos, humilhações, ameaças e desrespeito dentro e fora da escola. Também são comuns casos de violência psicológica e assédio moral, muitas vezes praticados por alunos, familiares e até colegas de trabalho. A subnotificação é outro fator preocupante: boa parte dos episódios não é denunciada por medo, vergonha ou falta de canais institucionais de acolhimento.

Os efeitos desse cenário são devastadores. O levantamento aponta que docentes expostos à violência apresentam índices elevados de ansiedade, depressão e distúrbios do sono, além de maior propensão ao afastamento por problemas de saúde mental. O ambiente escolar também sofre: o medo e o estresse comprometem o vínculo pedagógico, a qualidade do ensino e o direito dos estudantes a uma formação plena.

Em Campo Grande, a realidade da violência escolar segue a tendência nacional e tem se agravado nos últimos anos. Dados da Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (DEAIJ) de Campo Grande, indicam que, apenas em 2024, foram registrados cerca de 350 boletins de ocorrência envolvendo situações de agressão, ameaça e lesão corporal dentro das escolas da capital. Embora nem todos os casos envolvam diretamente os professores, é inegável que o clima de insegurança afeta toda a comunidade escolar, especialmente os educadores, que estão na linha de frente do processo educativo.

“Os números revelam o que nós, professores, sentimos todos os dias dentro das escolas: a violência contra o educador tem se tornado um problema estrutural e precisa ser enfrentado com urgência e seriedade. Não se trata apenas de agressões físicas ou verbais, mas de um processo contínuo de desvalorização que atinge a nossa saúde, a qualidade do ensino e o futuro da educação pública. A ACP tem um compromisso histórico com a defesa da vida e da dignidade dos profissionais da educação, e por isso estamos mobilizados para cobrar do poder público políticas permanentes de proteção, acolhimento e valorização docente. Garantir segurança a quem ensina é garantir o direito à aprendizagem e ao respeito dentro das escolas.”, explica o professor Gilvano Bronzoni, presidente da ACP.

A ausência de levantamentos específicos sobre a violência direcionada aos docentes evidencia a necessidade urgente de diagnósticos locais mais precisos, capazes de orientar políticas públicas e ações de proteção efetivas. Para a ACP, compreender a dimensão desse problema em Campo Grande é o primeiro passo para construir soluções concretas que garantam respeito, segurança e dignidade a quem dedica a vida à educação pública.

Diante desse panorama, a ACP reafirma seu compromisso com a defesa da dignidade e da integridade dos trabalhadores e trabalhadoras da educação pública. Para o sindicato, enfrentar a violência nas escolas é um dever coletivo que exige políticas públicas consistentes e ações articuladas entre as diferentes esferas de governo e a sociedade civil.
Entre as principais bandeiras da entidade está a criação e o fortalecimento de canais de denúncia e acolhimento que assegurem sigilo, amparo jurídico e acompanhamento psicológico aos profissionais vítimas de violência. A ACP também defende formações continuadas em mediação de conflitos e práticas restaurativas, de modo a fortalecer a escola como um espaço de diálogo e convivência pacífica.

A entidade propõe ainda a realização de campanhas permanentes de conscientização junto à comunidade escolar e à população, para valorizar o papel das professoras e professores e combater a cultura de desrespeito e deslegitimação da categoria. Soma-se a isso a cobrança por políticas públicas de proteção e valorização profissional, que garantam infraestrutura adequada, salários justos e condições dignas de trabalho. Outro eixo importante é a articulação institucional com órgãos públicos, como o Ministério Público, secretarias de Educação e conselhos de controle social, a fim de monitorar situações de risco e promover ações efetivas de prevenção.

Com base nos dados do Observatório do Estado Social, a ACP reforça a necessidade de transformar indignação em ação. Mais do que denunciar, é preciso criar políticas que garantam segurança, reconhecimento e valorização aos educadores. Porque uma escola segura para quem ensina é, acima de tudo, uma escola segura para quem aprende.

Comunicação ACP/ Observatório do Estado Social Brasileiro