Agosto Lilás: ACP promove reflexão e fortalecimento coletivo contra a violência de gênero

Parte da diretoria da ACP com as palestrantes do evento Agosto Lilás. (Fotos: Gabriel Rubio/Comunicação ACP)

Em alusão à campanha Agosto Lilás, a ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública) promoveu, nesta terça-feira (19), um importante encontro voltado à escuta, reflexão e fortalecimento coletivo diante das diversas formas de violência enfrentadas por mulheres. O evento ocorreu no espaço ACP Casa Park’s e reuniu profissionais da educação, lideranças sindicais e especialistas no tema.

Com o lema “Viver sem violência é um direito de toda mulher”, a iniciativa destacou não apenas os altos índices de violência física, mas também as formas mais sutis e veladas de agressão presentes no cotidiano de muitas mulheres, inclusive no ambiente de trabalho e nas relações pessoais.

A atividade contou com apresentações do Coral da ACP e da cantora Maila Espíndola, além de um momento de diálogo com duas especialistas: Márcia Paulino, psicóloga social e Secretária Executiva da Mulher de Campo Grande-MS, e Fabiane Britto de Araújo, psicóloga da educação e especialista em políticas públicas para mulheres.

Mais de 100 homens e mulheres participaram do momento de escuta e trocas.

Violências que marcam, mesmo quando invisíveis

A coordenadora do Coletivo de Mulheres da ACP, professora Maristela Ferreira Borges, ressaltou a importância de espaços como esse. Segundo ela, ainda que a violência física seja a mais visível, são as violências veladas que muitas vezes deixam marcas mais profundas.

“Não falamos apenas da violência física. Muitas vezes, as violências mais marcantes são aquelas veladas, que nem sempre são reconhecidas como violência: no ambiente de trabalho, nas instituições, nas relações cotidianas”, afirmou. Para ela, mulheres líderes sofrem discriminações que impactam suas trajetórias e afetam toda a sociedade.

Maristela reforçou que a luta contra a violência é parte do papel institucional da ACP, considerando que a maior parte da categoria é composta por mulheres. “Defender as mulheres significa defender a categoria, a educação pública e a própria democracia”, destacou.

Violência é estrutural e precisa ser enfrentada com educação

A vice-presidente da ACP, professora Josefa dos Santos, lembrou que a maioria esmagadora dos casos de violência contra mulheres é cometida por homens, dentro ou fora de casa. Para ela, a mudança exige um trabalho de base, começando pela escola.

“As escolas desempenham um papel fundamental no combate à violência. Precisamos educar nossos jovens de forma a rejeitar o machismo, pois serão eles, as crianças e os jovens, que terão a responsabilidade de transformar essa cultura de violência”, afirmou.

Josefa chamou atenção para os números alarmantes de violência registrados em Mato Grosso do Sul. Somente em Campo Grande, foram quase 300 casos de estupro em 2025, e, entre 2013 e 2025, quase 7 mil casos, a maioria ocorrido no ambiente familiar. Ela defendeu a ampliação da rede de proteção à mulher e enfatizou a importância de denunciar.

“A alegação de que ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’ é falsa. É preciso intervir, denunciar e utilizar os canais de denúncia, como o 180.”

O papel da educação na desconstrução do machismo

Representando a FETEMS (Federação dos Trabalhadores em Educação de MS), a presidenta Deumeires Morais reforçou a responsabilidade da educação no enfrentamento à violência de gênero.

Ela lamentou o fato de Mato Grosso do Sul figurar entre os estados mais violentos contra mulheres, apesar da população relativamente pequena. “Enquanto educadoras e educadores, temos a responsabilidade de enfrentar essa realidade e contribuir para a construção de uma sociedade em que nenhuma mulher perca a vida em razão da violência”, afirmou.

Deumeires também destacou que o feminicídio só passou a ser tipificado como crime há cerca de dez anos, o que demonstra o quanto o país ainda tem a avançar. “Eventos como este nos fortalecem e nos permitem levar esse debate para dentro das escolas, porque é no chão da escola que podemos, de fato, desconstruir o machismo, o ódio e a misoginia”, disse.

ACP levanta a bandeira do respeito e da denúncia

Para a secretária Social e Cultural da ACP, professora Sueleid Benevides, a campanha do Agosto Lilás é um momento de reafirmação da luta por respeito e dignidade. Ela ressaltou a gravidade da situação brasileira. “Nosso país ocupa uma posição alarmante: é o quinto no mundo em número de feminicídios e violência contra a mulher.”

Sueleid também alertou que a violência nem sempre é visível, podendo ser psicológica, moral ou exercida por pessoas próximas. “Mulheres, saiam do ciclo da violência. Não aceitem nenhuma forma de desrespeito. Merecemos ser respeitadas, cuidadas e valorizadas. Sempre!”, afirmou, em um chamado direto às vítimas.

O presidente da ACP, professor Gilvano Bronzoni, reforçou a importância do movimento e do papel do sindicato no enfrentamento da violência.

 “A ACP não se cala diante da violência. Como sindicato, temos o dever de promover não só a defesa dos direitos profissionais, mas também dos direitos humanos, e isso inclui o direito das mulheres a uma vida sem medo, sem assédio, sem opressão. O Agosto Lilás é mais que uma campanha: é uma convocação à sociedade. Nosso compromisso é permanente. Vamos continuar fortalecendo essa pauta dentro das escolas, dos espaços de formação e na luta sindical, porque defender as mulheres é defender a própria essência da educação: o respeito à dignidade humana”, afirmou Gilvano.

O deputado Pedro Kemp também se fez presente no evento e expressou seu apoio às ações contra a violência de gênero. “A violência contra a mulher é uma chaga social que exige ação direta do poder público, mas também um enfrentamento coletivo, com participação da sociedade, das escolas e das instituições. Como parlamentar, me somo a todas as iniciativas que colocam a vida e a dignidade das mulheres em primeiro lugar. O sindicato ACP está de parabéns por construir esse espaço de escuta e de mobilização. A educação tem um papel estratégico na prevenção da violência e na construção de uma nova cultura de igualdade. É pela educação que a transformação começa”, disse Kemp.

O procurador do trabalho do MPT, Paulo Douglas de Moraes, abordou a importância do combate à violência no ambiente de trabalho. “A violência contra a mulher, inclusive no ambiente de trabalho, é um grave problema estrutural e histórico, e não pode ser tratado como algo pontual ou isolado. O Ministério Público do Trabalho tem atuado para combater práticas discriminatórias, assédio e outras formas de violência de gênero nas relações laborais. Iniciativas como a da ACP, ao promoverem a conscientização dentro da educação pública, colaboram diretamente com esse enfrentamento. Garantir um ambiente de trabalho seguro, inclusivo e respeitoso é um direito fundamental das mulheres e um dever das instituições. É também uma das frentes mais importantes para combater a desigualdade e promover justiça social”, declarou o procurador.

Ao final do evento houve sorteio de brindes para os participantes.

Reflexão e resistência

Ao longo da noite, ficou evidente que o combate à violência contra a mulher não pode se limitar a campanhas pontuais. Trata-se de uma pauta contínua, urgente e coletiva. Para a ACP, abordar o tema é também uma forma de fortalecer a educação pública e a democracia.

Como destacou a vice-presidente Josefa, citando Nelson Mandela: “Ninguém nasce machista ou violento. A violência e o machismo são aprendidos”. E, sendo aprendidos, também podem, e devem, ser desconstruídos.

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Comunicação ACP